Um blog para alunos, professores, amigos, visitantes e interessados. Desejo que todos se divirtam, interajam e utilizem as ideias dos posts sobre as aulas de Língua Portuguesa ministradas por mim, professora Juliana Moratelli.

sexta-feira, 9 de março de 2018

Gênero: LENDAS

Lenda, gênero que possui como característica ser uma narrativa curta e que combina realidade e ficção. Transmitida e conservada pela tradição oral, as lendas tentam explicar acontecimentos ou comportamentos humanos, ou fenômenos misteriosos/sobrenaturais.

Seguem algumas ideias para trabalhar com as turmas de 7º ano:

ROMÃOZINHO
Era um menino, filho de um agricultor que já nasceu mau. Ele sempre gostou de maltratar os animais e destruir as plantas.
Uma vez, sua mãe mandou-o levar o almoço ao pai, que trabalhava na roça. Ele foi de má vontade. No meio do caminho, ele comeu a galinha, colocou seus ossos na marmita e levou-a ao pai. Quando o pai viu os ossos em vez da comida, ele perguntou o que aquilo significava. Romãozinho, perfidamente, disse:
- Deram a mim isso... Eu penso que minha mãe comeu a galinha com o homem que vai a nossa casa quando você não está lá, e enviou-lhe somente os ossos.
Enlouquecido de raiva, o pai voltou logo para casa, puxou do punhal e matou a esposa. Antes de morrer, a mãe amaldiçoou o filho, que ria, dizendo:
- Você não morrerá nunca! Você não conhecerá o céu ou o inferno, nem repousará enquanto existir um vivente sobre a terra!
Romãozinho riu ante a maldição e foi embora. Desde então, o menino nunca cresceu, anda pelas estradas e faz travessuras: quebra as telhas dos telhados a pedradas, assusta os homens e tortura as galinhas.
Mas também às vezes faz coisas boas. Há uma história que diz que uma mulher grávida estava sozinha e entrou em trabalho de parto, e no desespero chamou por Romãozinho e este foi à casa da parteira que depenava uma galinha. A galinha, de repente, saiu da mão dela e voou, a parteira saiu correndo atrás e a galinha foi jogada na casa da mulher que estava em trabalho de parto. (Domínio público)

Questionamentos orais:
Onde se passa esse texto (espaço)? Qual o tempo da narrativa?
Quais os personagens?
Qual a introdução? Desenvolvimento? Clímax? Desfecho?

O NEGRINHO DO PASTOREIO
No tempo dos escravos, havia um estancieiro muito ruim, que levava tudo por diante, a grito e a relho. Naqueles fins de mundo, fazia o que bem entendia, sem dar satisfação a ninguém.
Entre os escravos da estância havia um negrinho, encarregado do pastoreio de alguns animais, coisa muito comum nos tempos em que os campos de estância não conheciam cerca de arame; quando muito, havia apenas alguma cerca de pedra erguida pelos próprios escravos, que não podiam ficar parados, para não pensar bobagem... No mais, os limites dos campos eram aqueles colocados por Deus nosso Senhor: rios, cerros, lagoas.
Pois de uma feita, o pobre negrinho, que já vivia as maiores judiarias nas mãos do patrão, perdeu um animal no pastoreio. Pra quê! Apanhou uma barbaridade atado a um palanque e, depois, cai-caindo, ainda foi mandado procurar o animal extraviado. Como a noite vinha chegando, ele agarrou um toquinho de vela e uns avios de fogo, com fumo e tudo, e saiu campeando. Mas nada! O toquinho acabou, o dia veio chegando e ele teve que voltar para a estância.
Então, foi outra vez atado ao palanque e dessa vez apanhou tanto que morreu, ou pareceu morrer. Vai daí, o patrão mandou abrir a “panela” de um formigueiro e o atirarem lá dentro, de qualquer jeito, o pequeno corpo do negrinho, todo lanhado de laçaço e banhando em sangue.
No outro dia, o patrão foi com a peonada e os escravos ver o formigueiro.
Qual não é a sua surpresa ao ver o Negrinho do Pastoreio: ele estava lá, mas de pé, com a pele lisa, sem nenhuma marca das chicotadas. Ao lado dele, a Virgem Nossa Senhora, e mais adiante o baio e os outros cavalos.
O estancieiro se jogou no chão pedindo perdão, mas o negrinho nada respondeu.
Apenas beijou a mão da santa, montou no baio e partiu conduzindo a tropilha.
Desde aí, o Negrinho do Pastoreio ficou sendo o achador das coisas extraviadas. E não cobra muito: basta acender um toquinho de vela, ou atirar num canto qualquer naco de fumo. (Domínio público)

Interpretação de texto:
Qual é o título do texto? 
Qual é o espaço (onde) e o tempo (quando) da narrativa?
Quem é o personagem principal do texto? 
Este texto é  informativo ou folclórico? Justifique sua resposta.
Quantos parágrafos há no texto?
O estancieiro era bom ou ruim? Por quê?
Qual era a função do negrinho?
Por que o negrinho foi castigado?
O que o estancieiro encontrou no dia seguinte quando foi ver como estava o negrinho depois do castigo?
O que você acha do castigo que o estancieiro deu ao negrinho? Justifique sua resposta.
Você acredita nesta história? Justifique sua resposta.

LOIRA DO BANHEIRO
Ela vive nos banheiros das escolas. Possui farta cabeleira loira, é muito pálida, tem os olhos fundos e as narinas tapadas por algodão, a fim de que o sangue não escorra. Causa pânico entre os estudantes.
Dizem que era uma aluna que gostava de cabular as aulas, escondendo-se no banheiro. Um dia, caiu, bateu com a cabeça e morreu. Agora, seu fantasma vaga à espera de companhia, assombrando todos aqueles que fazem o mesmo que ela costumava fazer.
Em outras versões, é uma professora que se apaixonou por um aluno. Terminou assassinada, a facadas, pelo marido traído. Tem o rosto e o corpo ensangüentados, as roupas em frangalhos.
Loura ou loira do banheiro, menina do algodão, big loura. Lenda urbana contemporânea que ocorre, com modificações, em todas as regiões do Brasil. Algumas vezes é uma mulher feita, outras vezes, uma menina. Os locais de sua aparição podem variar: escolas, centros comerciais, hospitais. Entre os caminhoneiros, surge nos banheiros de estrada, de costas, linda. Porém, ao se voltar para sua vítima, com o rosto sangrento, causa o horror.
Acredita-se, também, que seja possível invocá-la. Para isto, basta apertar a descarga por três vezes seguidas ou chutar, com força, o vaso sanitário. Então, ela aparecerá, pronta para atacar a primeira pessoa que entrar no banheiro.

MANSÃO PROCÓPIO GOMES. 
Em Joinville, SC. Existe uma mansão que é chamada de Mansão Procópio Gomes. Procópio foi um dos pioneiros colonizadores da cidade, e sua família é deveras conhecida historicamente pelos moradores de Joinville. Mas a fama da família Gomes não se restringe ao fato de que eles foram uma das primeiras famílias a chegar à cidade e colonizá-la, muito menos pelo fato de esta família ter sido uma das mais ricas e influentes do sul do Brasil. Sua fama se dá quase de forma absurda pelo fato que passarei a narrar para os atenciosos leitores neste momento.
Procópio Gomes mudou-se para Joinville com toda a sua família, que incluía esposa e três filhos (dois meninos e uma menina), seu irmão Alberto Gomes e sua mãe, Maria Gomes. A família tinha uma convivência conjugal de certa forma tranquila, não havendo relatos históricos de grandes brigas ou momentos maiores de violência familiar.
Apesar de ser uma família aparentemente tranquila, toda regra possui sua exceção. E a exceção neste caso tinha nome próprio e uma existência macabra: Maria Gomes. Maria Gomes era uma descendente de alemães vindos ao Brasil no final do século XIX, e tinha herdado de seus pais o ódio aos negros, que nesta época ainda eram escravizados nestas terras. A história registra, e não apenas a história tradicional, mas a lembrança das pessoas mais idosas da cidade que tiveram contato com os netos de Maria Gomes em seus últimos momentos neste mundo, que sua existência era perturbada e perturbadora.
Amigos e conhecidos da família contam que já no final de sua vida, ela nutria um ódio incomensurável pelos seus próprios escravos, sendo que para ela tinha um acontecimento que era inadmissível entre seus empregados: o nascimento de um filho ou filha. Todos contam que, quando uma escrava engravidava, Maria Gomes cometia todo tipo de atrocidades para fazer que elas perdessem seus bebês, mas aqueles que nasciam, eram dados aos porcos como alimento pela própria senhora.
Quando no momento derradeiro de sua miserável vida, Maria Gomes começou a se debater em sua cama e a gritar: “eles estão vindo me buscar! Estão chegando perto, estou sentindo o cheiro de podre deles” E gritava que ainda via o chão se abrir e demônios virem buscar sua alma. Poucos segundos antes de morrer, ela gritou: “Eles estão me tocando e suas mãos queimam como ferro em brasa! Socorro, eu me arrependo, não quero ir com eles, socorro, suas correntes estão me queimando!”. E finalmente, silenciando e partindo para sabe-se Deus onde.
Depois do acontecido, seu filho Procópio e seu irmão Alberto resolveram enterrar todos os bens pessoais de Maria e suas riquezas em ouro no porão da mansão, visto que acreditavam ser objetos e dinheiro amaldiçoado pelo caráter horripilante e grotesco de sua mãe. O fizeram, enterrando tudo o que um dia pertenceu a Maria Gomes na Mansão Procópio Gomes.
Desde a morte de Procópio Gomes e do restante de sua família, ninguém mais conseguiu morar na Mansão e ela está constantemente para ser alugada. Alguns aventureiros tentaram encontrar os bens e posses de Maria Gomes, sem sucesso. Todos os que adentraram a mansão presenciaram eventos muito estranhos e assustadores, como visão de vultos, toques e ventos gelados, sons de correntes e rangidos, portas batendo e assoalhos e escadas rangendo ao som de passos. Poucos chegaram até o porão, mas nenhum que chegou conseguiu ficar mais de dois ou três minutos. Conta-se que no porão existe um córrego, e que os que descem até lá veem nitidamente diversos corpos de crianças recém-nascidas boiando e as ouvem chorar desesperadamente. E a pergunta fica para você: Teria coragem de, ao visitar Joinville, dar uma olhada bem de perto na Mansão Procópio Gomes?
TEXTO DE: Vinicius Pinheiro.

Com carinho,
Professora Juliana Moratelli.